Tribuna Livre: escola quer oferecer cursos profissionalizantes para recuperação de presidiários
Tribuna Livre: escola quer oferecer cursos profissionalizantes para recuperação de presidiários
Durante a sessão ordinária dessa segunda-feira (21), o coordenador da escola de cursos profissionalizantes Nova Didata, Willian Ricardo da Silva, ocupou a Tribuna Livre da Câmara e pediu apoio aos vereadores para implementação de um projeto social no presídio do município. A proposta, que busca oferecer cursos profissionalizantes aos detentos, foi bem recebida pelos vereadores.
O coordenador da Nova Didata aponta que atualmente são desenvolvidos outros projetos sociais no município, tais como visitas em asilos, cursos para famílias de baixa renda e aulas de informática na instituição filantrópica Casa São Francisco. De acordo com Willian, a ideia surgiu por meio de uma conversa com a recepcionista da escola. "Ela me disse que seu irmão estava preso em outra cidade, onde existe um projeto para dar oportunidade de reintegrar o preso na sociedade. Se ele fizer um curso profissionalizante, ele pode voltar a trabalhar depois que sair da prisão", afirma. Segundo Willian, ele procurou meios para a aplicação do projeto em São Sebastião do Paraíso, através do apoio de penitenciárias, colégios, Defensoria Pública e Delegacia da Polícia Civil.
A ideia tem por objetivo profissionalizar detentos por meio de cursos, incluindo presidiários de regime fechado ou semiaberto. Willian pretende aplicar os cursos dentro do presídio ou na sede da escola. "Isso garante que, quando o detento saia da prisão, ele possa exercer alguma profissão como cabeleireiro, pedreiro ou pintor. Isso vai, de fato, reintegrá-lo na sociedade. Em Alfenas, há um projeto similar em que o estado acaba custeando uma parte do projeto, mas acredito muito que as próprias famílias desses presos terão a intenção de ajudar", explica.
O vereador Marcelo Morais (PSDB) lembrou que, durante a sua gestão como presidente da Câmara, o assunto foi discutido pela Comissão de Direitos Humanos. "Foi apresentada a possibilidade de um convênio envolvendo a Defensoria Pública, a juíza criminal e a Prefeitura para que alguns presos pudessem fazer algum serviço pela comunidade. Foi até sugerido o trabalho na limpeza de terrenos, uma vez que a Prefeitura não estava dando conta de executar o serviço. Toda ideia que vá ao encontro de minimizar os impactos para que os detentos possam voltar à sociedade de uma maneira condizente é válida", destacou.
O vereador Sérgio Gomes (PSD) parabenizou a iniciativa e apontou a necessidade de envolver as lideranças do sistema prisional do município para a aplicação do projeto. "A situação do sistema prisional é complicadíssima, superlotado, pessoas que praticaram crimes de menor potencial ofensivo dividindo espaço com pessoas de alta periculosidade, colocando em risco a integridade física até mesmo dos que trabalham no presídio. Acredito que temos que envolver as lideranças: promotor, juiz, delegado, polícia, para que alguma coisa seja feita", destacou.
O presidente da Casa, Lisandro Monteiro (SD), lembrou da visita recente dos vereadores à Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC) da cidade de Passos. A associação visa à recuperação e reintegração social dos condenados, onde a segurança e disciplina do presídio são feitas com a colaboração dos próprios recuperandos. "Há mais de 100 detentos que estudam, aprendem a tocar instrumentos musicais e fazem a própria comida. O índice de recuperação é em torno de 70%, um alto índice comparado ao sistema prisional comum". Ele ainda destacou o apoio da Casa Legislativa ao projeto desenvolvido pela Nova Didata. "Deixo as portas abertas caso queiram consultar o jurídico da Câmara e fazer uma reunião com a Comissão de Direitos Humanos, acredito que esses projetos têm muito a acrescentar".
José Luiz das Graças (DEM) apoiou a iniciativa e destacou que os dados estatísticos sobre o sistema prisional brasileiro impressionam. "Atualmente, temos quase 800 mil detentos no país e pouco mais de 10% trabalham. Entendo que, para funcionar de forma a dar condições para que o detento cumpra sua pena, volte para a sociedade e não cometa mais crimes, muitos deles precisam sair empregados. Muitos não têm família; outros a família não os acolhe quando saem da prisão e, diante da dificuldade de não ter nada, muitos acabam cometendo crimes. Somos o terceiro país com maior número de detentos e aquilo que estiver ao nosso alcance, faremos para contribuir com o projeto".